Por consulta no domicílio entende-se a consulta directa, programada ou espontânea, efectuada na residência do paciente (a sua casa, de um amigo, hotel, quarto, etc.), onde o terapeuta avalia o seu estado de saúde, o aconselha, o trata e o acompanha, para satisfazer uma necessidade de cuidados assistenciais e devido a uma impossibilidade, temporária ou permanente, de se deslocar ao gabinete.
O modelo de consulta no domicílio evoluiu com o desenvolvimento dos cuidados de saúde primários, deixando de ter conotação exclusivamente médica, para ser um processo de prestação de cuidados continuados e integrais, através de uma equipa multidisciplinar (incluindo grupos profissionais «novos»), com tarefas médicas, sociais e outras, constituindo um conceito mais alargado, os Cuidados no Domicílio.
As
consultas no domicílio
caracterizam-se por particularidades interessantes:
1-desenvolvimento de uma relação terapeutica-paciente mais gratificante;
2-possibilidade de diagnosticar mais problemas de saúde do que no gabinete;
3-observação directa dos valores e da história da família;
4- avaliação funcional do paciente, através das actividades de vida diária, mais correcta;
5-identificação das condições de habitação e de eventuais perigos;
6- revisão da medicação, inclusive da que se encontra «espalhada» pela casa;
7- avaliação directa da organização e adaptação da família e dos seus recursos, ao momento actual;
8- avaliação do cuidador.
Da totalidade dos cuidados que o paciente necessita, cerca de 80% são executados pelo cuidador, distribuídos pelas seguintes funções: higiene, alimentação adequada, administração de medicamentos, estímulo da autonomia, prevenção de acidentes, apoio afectivo, evitar a depressão e a frustração, potenciar o apoio social e institucional.
Cabe ao terapeuta estar atento e actuar de acordo com os recursos disponíveis, perante os seguintes factores:
1-sexo feminino e ‘menor’ idade;
2-isolamento social;
3-falta de apoio e/ou críticas por parte de outros membros da família;
4-perca de perspectivas de futuro (trabalho, envolvimento social);
5- personalidade do cuidador, depressivo ou ansioso, baixa auto-estima, obsessivo, paternalista;
6-relação prévia com o paciente, conflituosa ou
ambivalente;
7-situação do paciente, com grandes alterações
do comportamento;
8- falta de apoio de estruturas
comunitárias;
9- relação conflituosa do cuidador com os serviços de saúde.
Competências técnico-profissionais do Terapeuta
Atitudes:
- adquirir flexibilidade e sensibilidade no ambiente do paciente;
- desenvolver capacidades para recolher hist. Clín. e efectuar ex. objectivo no domicílio, mantendo o respeito e a confidencialidade;
- compreender e a aceitar a comunidade onde se trabalha;
- compreender o papel e a importância de uma equipa multidisciplinar nos cuidados domiciliários.
Conhecimentos:
- desenvolver capacidades para diagnosticar no local (sempre que possível), e prescrever terapêutica e meios auxiliares de diagnóstico apropriados, tendo em conta a patologia e os recursos disponíveis;
- reconhecer a necessidade de transferência, em situações agudas, para unidades de urgência ou de internamento;
- conhecer os recursos comunitários e como ter acesso a eles (grupos de auto-ajuda, voluntários, etc.);
- conhecer o ‘plano de alta’, em conjunto com toda a equipa de cuidados;
- desenvolver e aplicar os princípios dos cuidados paliativos no domicílio.
Aptidões:
- avaliar actividades de vida diária no domicílio;
- avaliar o ambiente familiar e a sua segurança;
- efectuar um exame objectivo, completo, na casa do paciente;
- usar tecnologia apropriada no domicílio.